quarta-feira, 18 de julho de 2018

A arte do amor infinito


Ciência oriental com mais de 4.000 anos de existência, o tantra usa o amor carnal para nutrir o espírito
Daiana Dalfito
Visto de muitas formas equivocadas no Ocidente, o tantra talvez seja mais conhecido por uma de suas práticas o “Sexo Tântrico”, mas essa ‘filosofia’ essencialmente prática tem por objetivo o desenvolvimento máximo e total do humano em seus aspectos, físicos, mentais e espirituais. 


A palavra “tantra” vem do sânscrito, uma das línguas oficiais da Índia, e é composta por duas raízes áusticas: “tan”, que quer dizer escuridão, e “tra”, que se refere à libertação. O tantra é um conjunto de práticas de origem hindu de natureza matriarcal, naturalista, sensorial e de combate à repressão e que vê o corpo como um dos caminhos para o conhecimento. 

O sexo é encarado pelos seguidores do Tantra como um canal de propagação de energias, uma via de conhecimento e é muito mais do que ‘o sexo afoito e agressivo’ propagado no Ocidente. O sexo tântrico busca a junção da força passiva e masculina de Shiva (deus da destruição que precede a criação) com a força criativa e feminina de Shakti (deusa mãe, energia cósmica dinâmica)

Ciência pura que determina o poder da transformação individual, o tantrismo prega que cada humano pode transformar a si mesmo e essa transformação precisa de uma metodologia científica encontradas em seus ritos. Para o filósofo Osho, o tantra é o grande ensinamento, que não dita mandamentos. “Ele não cuida do que fazes. Ele cuida do que és, do teu centro, da tua consciência.” 

Um dos mestres do tantrismo no Brasil é o professor Otávio Leal. Praticante de yoga e tantra há cerca de 20 anos, Leal começou dando aulas de hatha yoga - um sistema iniciado pelo yogi Swatmarama, na Índia do século 15 a.C. Há 15 anos, Leal foi iniciado no tantra pelo mestre Ananda Ran e hoje é co-diretor da Humaniversidade, em São Paulo. Nesta entrevista o professor fala um pouco sobre a ciência ‘tantra’ e o sexo tântrico. (Mais em: www.humaniversidade.com.br)

Jornal da Cidade - O que é o tantra?

Otávio Leal - É um modo de vida e não uma filosofia especulativa como as muitas que vemos no ocidente, não há a crença em algo específico. O tantra é amplo e tem origens tribais o que o afasta das formas civilizadas de pensamento, faz parte das práticas do tantra os mantras (sílabas ou poemas, geralmente em sânscrito, para cantar; se originaram no hinduísmo, mas são utilizados também no budismo e no jainismo), mandalas, posições de yoga, massagens e o ato sexual em si. No tantra um dos princípios se assemelha ao kavanah, pregado por Jesus, ou seja, fazer e agir com boa vontade. O tantra aponta para que as ações sejam praticadas de todo o coração, seja cozinhar, trabalhar, fazer amor ou qualquer outra coisa.

JC - O que é sexo tântrico?

Otávio - É uma das práticas de uma cultura ancestral de origem hindu. O sexo tântrico é ritualístico, meditativo, místico e absolutamente mágico e amoroso. Os praticantes do tantra se referem ao ato sexual como maithuna, ato sexual ritualizado, é o processo final, quando se é necessário uma preparação anterior através de outras práticas do tantra, como alguns tipos de yoga. Maithuna trabalha com a união dos princípios opostos de Shiva (masculino) e Shakti (feminino). No tantra, o sexo é encarado como forma de ativar a Kundalini, ou seja, a energia cósmica e primordial. 

JC - Quais os equívocos mais comuns cometidos por pessoas que não conhecem a prática? Por exemplo, muitas pessoas acreditam que o Kama Sutra é apenas um manual erótico, isso acontece também com o sexo tântrico?

Otávio - Não acredito em equívocos, pois creio que se não conhecem não praticam. Mas há erros quanto à interpretação por falta de informação. O Kama Sutra, por exemplo, não é um livro tântrico, mas têm raízes na cultura religiosa sânscrita. Hoje, como o tantra está muito ligado a hatha yoga, por exemplo, os equívocos são menores, mas muita gente crê que o tantra é apenas sexo. Em São Paulo há inúmeras casas de massagem com o nome “Tantra”, mas são apenas casas para a prática sexual não tântricas.

JC – Você já foi discriminado por trabalhar com o tantra?

Otávio – Não. Eu sou muito tranquilo em relação a outras pessoas e no meu estilo de vida eu não abro espaço para discriminação.

JC - Uma dúvida que surgiu dentre as pesquisas sobre tantra foi que os textos se referem sempre a relacionamentos entre homens e mulheres, mas não entre homossexuais. É possível praticar o sexo tântrico para os que optam pela homossexualidade?

Otávio – Sim. É possível, é natural desde que haja amor.

JC - Quais são as vertentes do tantra e suas principais diferenças?

Otávio - Existem três escolas principais, conhecidas como o caminho da “Direita”, “Esquerda” e do “Meio”. Eu trabalho com o tantra do meio, que busca equilíbrio na vida e em todas as suas áreas. As características do tantra - ou suas práticas – são, como o já dito, principalmente, o yoga, os mantras (sons de poder), as meditações sexuais ou não, as danças sagradas, as massagens terapêuticas e sensoriais, as respirações, os trabalhos com mandalas e a alimentação. Lembrando que o tantra é uma cultura. Em relação ao sexo tântrico, a linha da Direita não acredita no orgasmo e o vê como desperdício de energia, não tendo orgasmos nunca. Uma das pretensões do tantra é elevar a Kundalini, que é o “orgônio” e a libido. Na corrente da Direita, os praticantes crêem que a Kundalini é elevada através de uma vida, como dizemos, monástica. Os praticantes não fazem sexo nunca ou muito raramente, tentando conter o orgasmo. O sexo é sempre feito com o (a) companheiro(a). Para os seguidores da Direita, em relação à dieta, também não são aceitas as carnes, sendo que a alimentação é totalmente vegetariana. Os seguidores da Esquerda cultivam o orgasmo e sempre chegam ao ápice em suas relações. Para a Esquerda, existe a defesa da tese de que com um estranho o praticante do sexo atingiria um nível maior de prazer, pela erotização “da primeira vez”. No que se refere à alimentação são aceitos todos os tipos de carnes, preparadas das mais diferentes formas. O caminho do Meio pondera entre as duas linhas, Direita e Esquerda, e dá ao seguidor a possibilidade da escolha. A do Meio tanto faz se o praticante conhece e tem vínculos com o (a) parceiro(a). Da mesma forma que o sexo, os adeptos podem consumir, eventualmente, carnes brancas se desejarem. É preciso entender que a monogamia é uma tendência de cerca de 4.000 anos. Antes, valia o pensamento tribal, base do Tantra. Para povos “não civilizados”, valem os valores de sinceridade e verdade acima de tudo, esses são valores muito tântricos. O tantra não reprime escolhas e estimula a verdade. 

JC - Existe uma estimativa de praticantes de tantra no mundo, Brasil e Estado de São Paulo? 

Otávio - Desconheço esses dados, até porque o tantra não é uma religião. Se pensarmos que o yoga é de origem tântrica, aí sim poderemos encontrar um número gigantesco de praticantes em redor do planeta.

JC – Quais são os benefícios físicos e espirituais que a prática do tantra traz para seus adeptos?

Otávio – Físicos, você pode dizer que os praticantes entram na esfera dos que possuem longevidade, flexibilidade, saúdes. É preciso considerar que com o sexo tântrico, assim como a prática sexual ocidental, libera endorfina – neurotransmissor responsável pelas sensações de euforia e bem-estar – e ela tem efeito sobre um apuro na memória, melhora o humor e o sistema imunológico, aumenta a resistência e a disposição física, entre outras coisas. E o que seria um benefício espiritual? Talvez ficar mais feliz... É, porque a gente confunde um pouco esse conceito “espiritual” aqui no Ocidente, por exemplo, quando alguém diz que ‘têm um problema espiritual’. Mas o que ele tem? Seu espírito está doente, tem gripe, depressão? Isso tudo é doença do corpo, são estados da mente. O espírito é o que somos, o que adoece é o corpo, a mente. Essa sexualidade, esse amor é felicidade. E felicidade não é prazer, prazer é comprar uma casa, um carro, comer um chocolate ou ver o time de futebol ganhar. O tantra atua na felicidade. O livro budista “A Arte da Felicidade”, de Dalai Lama, aponta que a área do cérebro responsável pela felicidade, quando a pessoa medita faz com que essa área ‘aumente’ até 700%.

JC – Existem pré-requisitos para praticar o tantra? Há uma idade específica para começar?

Otávio – Não. Não cabe a mim e a ninguém julgar quem deve ou não deve praticar o tantra. No caso das crianças, a prática teórica de alguns conceitos é possível e viável. Se você pensar que o yoga é tântrico, não há contraindicações. Eu digo que se as pessoas entendessem um pouquinho do que é o yoga correriam para praticar, porque a prática oferece tantos benefícios. Mas cada coisa em seu tempo, a criança tem sua sexualidade e não pode ser ‘mexida’, o ato sexual é inviável.

JC – E as contraindicações?

Otávio – Não existem. É claro que se a pessoa não está saudável ela não vai poder praticar, mas isso também se aplica se ela for simplesmente fazer amor. Pode ter certeza que é mais fácil morrer no ato sexual convencional do que no tântrico (risos). Dependendo da condição física do praticante é necessário ter-se algumas limitações. Para as práticas mais adiantadas é necessário muita saúde.

JC - Há um tempo mínimo de estudo e “treino” para alcançar um nível “bom” para o tantra?

Otávio - Existem práticas básicas que podem ser aprendidas em um final de semana e algumas, adiantadas, que levam toda a vida.

JC – Há um nome específico para quem pratica o tantra? Para ser um mestre qual é o caminho?

Otávio – Um dos nomes usados para o praticante de tantra é Sathaka, usado em uma das escolas, que são muitas. O tantra é uma escola de iniciação e para começar a dar aulas aqui no Brasil precisei viajar muitas vezes à Índia e torcer para um dos mestres me iniciaram, isso há muitos anos. Porque, assim como em outras ‘filosofias’ orientais, existe a transmissão de conhecimento, aqui em São Paulo um dos cursos que eu ministro tem a duração de 12 meses, a partir daí o aluno já pode dirigir alguns grupos de yoga tântrico e ensinar algumas práticas, sempre acompanhado de um mestre. Para ser considerado um mestre elevado é preciso “iluminar-se”, não existem certificados e alguém dizendo: você é.


segunda-feira, 16 de julho de 2018

A dura vida dos ateus em um Brasil cada vez mais evangélico


Dia 21 de Janeiro é o dia Nacional contra a Intolerância Regiliosa. Achei por bem postar este texto tendo em vista que as eleições se aproximam e corremos sérios risco de ser instaurada com maior intensidade caso um dos candidatos seja eleito.

A parábola do taxista e a intolerância.
Reflexão a partir de uma conversa no trânsito de São Paulo. A expansão da fé evangélica está mudando “o homem cordial”?

Em 14/11/2011 li um texto de ELIANE BRUM, Jornalista, escritora e documentarista. Como o texto me interessou, o guardei para um dia postar em meu Blog, por uma ocasião especial de intolerância religiosa.
O diálogo aconteceu entre uma jornalista e um taxista na última sexta-feira. Ela entrou no táxi do ponto do Shopping Villa Lobos, em São Paulo, por volta das 19h30. Como estava escuro demais para ler o jornal, como ela sempre faz, puxou conversa com o motorista de táxi, como ela nunca faz. Falaram do trânsito (inevitável em São Paulo) que, naquela sexta-feira chuvosa e às vésperas de um feriadão, contra todos os prognósticos, estava bom. Depois, outro taxista emparelhou o carro na Pedroso de Moraes para pedir um “Bom Ar” emprestado ao colega, porque tinha carregado um passageiro “com cheiro de jaula”. Continuaram, e ela comentou que trabalharia no feriado. Ele perguntou o que ela fazia. “Sou jornalista”, ela disse. E ele: “Eu quero muito melhorar o meu português. Estudei, mas escrevo tudo errado”. Ele era jovem, menos de 30 anos. “O melhor jeito de melhorar o português é lendo”, ela sugeriu. “Eu estou lendo mais agora, já li quatro livros neste ano. Para quem não lia nada...”, ele
contou. “O importante é ler o que você gosta”, ela estimulou. “O que eu quero agora é ler a Bíblia”. Foi neste ponto que o diálogo conquistou o direito a seguir com travessões.
- Você é evangélico? – ela perguntou.
- Sou! – ele respondeu, animado.
- De que igreja?
- Tenho ido na Novidade de Vida. Mas já fui na Bola de Neve.
- Da Novidade de Vida eu nunca tinha ouvido falar, mas já li matérias sobre a Bola de Neve. É bacana a Novidade de Vida?
- Tou gostando muito. A Bola de Neve também é bem legal. De vez em quando eu vou lá.
- Legal.
- De que religião você é?
- Eu não tenho religião. Sou ateia.
- Deus me livre! Vai lá na Bola de Neve.
- Não, eu não sou religiosa. Sou ateia.
- Deus me livre!
- Engraçado isso. Eu respeito a sua escolha, mas você não respeita a minha.
- (riso nervoso).
- Eu sou uma pessoa decente, honesta, trato as pessoas com respeito, trabalho duro e tento fazer a minha parte para o mundo ser um lugar melhor. Por que eu seria pior por não ter uma fé?
- Por que as boas ações não salvam.
- Não?
- Só Jesus salva. Se você não aceitar Jesus, não será salva.
- Mas eu não quero ser salva.
- Deus me livre!
- Eu não acredito em salvação. Acredito em viver cada dia da melhor forma possível.
- Acho que você é espírita.
- Não, já disse a você. Sou ateia.
- É que Jesus não te pegou ainda. Mas ele vai pegar.
- Olha, sinceramente, acho difícil que Jesus vá me pegar. Mas sabe o que eu acho curioso? Que eu não queira tirar a sua fé, mas você queira tirar a minha não fé. Eu não acho que você seja pior do que eu por ser evangélico, mas você parece achar que é melhor do que eu porque é evangélico. Não era Jesus que pregava a tolerância?
- É, talvez seja melhor a gente mudar de assunto...
O taxista estava confuso. A passageira era ateia, mas parecia do bem. Era tranquila, doce e divertida. Mas ele fora doutrinado para acreditar que um ateu é uma espécie de Satanás. Como resolver esse impasse? (Talvez ele tenha lembrado, naquele momento, que o pastor avisara que o diabo assumia formas muito sedutoras para roubar a alma dos crentes. Mas, como não dá para ler pensamentos, só é possível afirmar que o taxista parecia viver um embate interno: ele não conseguia se convencer de que a mulher que agora falava sobre o cartão do banco que tinha perdido era a personificação do mal.)
Chegaram ao destino depois de mais algumas conversas corriqueiras. Ao se despedir, ela agradeceu a corrida e desejou a ele um bom fim de semana e uma boa noite. Ele retribuiu. E então, não conseguiu conter-se:
- Veja se aparece lá na igreja! – gritou, quando ela abria a porta.
- Veja se vira ateu! – ela retribuiu, bem humorada, antes de fechá-la.
Ainda deu tempo de ouvir uma risada nervosa.
A parábola do taxista me faz pensar em como a vida dos ateus poderá ser dura num Brasil cada vez mais evangélico – ou cada vez mais neopentecostal, já que é esta a característica das igrejas evangélicas que mais crescem. O catolicismo – no mundo contemporâneo, bem sublinhado – mantém uma relação de tolerância com o ateísmo.
Por várias razões. Entre elas, a de que é possível ser católico – e não praticante. O fato de você não frequentar a igreja nem pagar o dízimo não chama maior atenção no Brasil católico nem condena ninguém ao inferno. Outra razão importante é que o catolicismo está disseminado na cultura, entrelaçado a uma forma de ver o mundo que influencia inclusive os ateus. Ser ateu num país de maioria católica nunca ameaçou a convivência entre os vizinhos. Ou entre taxistas e passageiros.
Já com os evangélicos neopentecostais, caso das inúmeras igrejas que se multiplicam com nomes cada vez mais imaginativos pelas esquinas das grandes e das pequenas cidades, pelos sertões e pela floresta amazônica, o caso é diferente. E não faço aqui nenhum juízo de valor sobre a fé católica ou a dos neopentecostais. Cada um tem o direito de professar a fé que quiser – assim como a sua não fé. Meu interesse é tentar compreender como essa porção cada vez mais numerosa do país está mudando o modo de ver o mundo e o modo de se relacionar com a cultura. Está mudando a forma de ser brasileiro.
Por que os ateus são uma ameaça às novas denominações evangélicas? Porque as neopentecostais – e não falo aqui nenhuma novidade – são constituídas no modo capitalista. Regidas, portanto, pelas leis de mercado. Por isso, nessas novas igrejas, não há como ser um evangélico não praticante. É possível, como o taxista exemplifica muito bem, pular de uma para outra, como um consumidor diante de vitrines que tentam seduzi-lo a entrar na loja pelo brilho de suas ofertas. Essa dificuldade de “fidelizar um fiel”, ao gerir a igreja como um modelo de negócio, obriga as neopentecostais a uma disputa de mercado cada vez mais agressiva e também a buscar fatias ainda inexploradas. É preciso que os fiéis estejam dentro das igrejas – e elas estão sempre de portas abertas – para consumir um dos muitos produtos milagrosos ou para serem consumidos por doações em dinheiro ou em espécie. O templo é um shopping da fé, com as vantagens e as desvantagens que isso implica.
É também por essa razão que a Igreja Católica, que em períodos de sua longa história atraiu fiéis com ossos de santos e passes para o céu, vive hoje o dilema de ser ameaçada pela vulgaridade das relações capitalistas numa fé de mercado. Dilema que procura resolver de uma maneira bastante inteligente, ao manter a salvo a tradição que tem lhe garantido poder e influência há dois mil anos, mas ao mesmo tempo estimular sua versão de mercado, encarnada pelos carismáticos. Como uma espécie de vanguarda, que contém o avanço das tropas “inimigas” lá na frente sem comprometer a integridade do exército que se mantém mais atrás, padres pop star como Marcelo Rossi e movimentos como a Canção Nova têm sido estratégicos para reduzir a sangria de fiéis para as neopentecostais. Não fosse esse tipo de abordagem mais agressiva e possivelmente já existiria uma porção ainda maior de evangélicos no país.
Tudo indica que a parábola do taxista se tornará cada vez mais frequente nas ruas do Brasil – em novas e ferozes versões. Afinal, não há nada mais ameaçador para o mercado do que quem está fora do mercado por convicção. E quem está fora do mercado da fé? Os ateus. É possível convencer um católico, um espírita ou um umbandista a mudar de religião. Mas é bem mais difícil – quando não impossível – converter um ateu. Para quem não acredita na existência de Deus, qualquer produto religioso, seja ele material, como um travesseiro que cura doenças, ou subjetivo, como o conforto da vida eterna, não tem qualquer apelo. Seria como vender gelo para um esquimó.
Tenho muitos amigos ateus. E eles me contam que têm evitado se apresentar dessa maneira porque a reação é cada vez mais hostil. Por enquanto, a reação é como a do taxista: “Deus me livre!”. Mas percebem que o cerco se aperta e, a qualquer momento, temem que alguém possa empunhar um punhado de dentes de alho diante deles ou iniciar um exorcismo ali mesmo, no sinal fechado ou na padaria da esquina. Acuados, têm preferido declarar-se “agnósticos”. Com sorte, parte dos crentes pode ficar em dúvida e pensar que é alguma igreja nova.
Já conhecia a “Bola de Neve” (ou “Bola de Neve Church, para os íntimos”, como diz o seu site), mas nunca tinha ouvido falar da “Novidade de Vida”. Busquei o site da igreja na internet. Na página de abertura, me deparei com uma preleção intitulada: “O perigo da tolerância”. O texto fala sobre as famílias, afirma que Deus não é tolerante e incita os fiéis a não tolerar o que não venha de Deus. Tolerar “coisas erradas” é o mesmo que “criar demônios de estimação”. Entre as muitas frases exemplares, uma se destaca:
“Hoje em dia, o mal da sociedade tem sido a Tolerância (em negrito e em maiúscula)”.
Deus me livre!, um ateu talvez tenha vontade de dizer. Mas nem esse conforto lhe resta. Ainda que o crescimento evangélico no Brasil venha sendo investigado tanto pela academia como pelo jornalismo, é pouco para a profundidade das mudanças que tem trazido à vida cotidiana do país. As transformações no modo de ser brasileiro talvez sejam maiores do que possa parecer à primeira vista. Talvez estejam alterando o “homem cordial” – não no sentido estrito conferido por Sérgio Buarque de Holanda, mas no sentido atribuído pelo senso comum.
Me arriscaria a dizer que a liberdade de credo – e, portanto, também de não credo – determinada pela Constituição está sendo solapada na prática do dia a dia. Não deixa de ser curioso que, no século XXI, ser ateu volte a ter um conteúdo revolucionário. Mas, depois que Sarah Sheeva, uma das filhas de Pepeu Gomes e Baby do Brasil, passou a pastorear mulheres virgens – ou com vontade de voltar a ser – em busca de príncipes encantados, na “Igreja Celular Internacional”, nada mais me surpreende.
Se Deus existe, que nos livre de sermos obrigados a acreditar nele.
(Eliane Brum)

ET.(Faço aqui um adendo no sentido de que, em se tratando de intolerância, o Brasil está correndo um sério risco de, caso o Sr. Bolnonaro seja eleito, há uma probabilidade de sermos penalizados por heresias e não professar a mesma fé que ele e seus discípulos professam.)

Jodenon

domingo, 8 de julho de 2018

A Embolização Prostática como Tratamento para Hiperplasia Prostática Benigna (HPB)

A próstata é uma glândula sexual masculina responsável pela produção de componentes do fluído de sêmen, e está localizada entre a bexiga e o pavimento pélvico. Em mais da metade dos homens acima de 50 anos ocorrem o aumento da próstata. Esta condição é chamada de hiperplasia prostática benigna (HPB) ou hipertrofia benigna da próstata, sendo que este aumento é considerado um crescimento natural, não tendo relação com o câncer de próstata, e em alguns homens pode ocorrer os seguintes sintomas:
• Dificuldades para urinar;
• Diminuição da força do jato urinário;
• Gotejamento no final da micção;
• Micção em dois tempos;
• Desejo de urinar durante a noite;
• Necessidade de urinar várias vezes durante o dia.
Esses sintomas se iniciam, geralmente, a partir dos 50 anos de idade e se tornam mais intensos depois dos 60 anos. A Embolização Prostática surge como forma de tratamento minimamente invasivo, ou seja, embora também seja considerada uma cirurgia, é realizada sob anestesia local, sem necessidade de cortes (cirurgia aberta) ou de internação prolongada do paciente.
Ela deve ser realizada pelo médico radiologista intervencionista, acompanhado pelo urologista responsável pela condução do caso e indicação formal do procedimento, que caracteriza-se como uma alternativa à ressecção transuretral da próstata que demanda internação, anestesia geral e, tem como um tipo de complicação, o surgimento de ejaculação retrógrada.
O procedimento consiste em uma pequena incisão na região da virilha, para que seja introduzido um cateter na artéria, a ser guiado por um aparelho de raios X ultra moderno, até a próstata, onde são injetadas microesferas, parecidas com grãos de areia, que reduzem a circulação sanguínea no local. Com isso, a próstata diminui de tamanho e fica mais macia, aliviando a obstrução da uretra, e consequentemente os sintomas causados pela HPB.
Hoje a indicação da embolização da próstata está relacionada aos pacientes que não tem boa resposta ao uso de medicamentos orais, ou que não tem condições clínicas ou não querem ser submetidos à cirurgia tradicional, a RTU. O melhor tratamento depende das condições de saúde de cada paciente e a escolha do melhor tratamento deve ser indicada pelo médico urologista.
Matéria da Revista Saúde - nº 10 - Junho2018

DR. LUIZ OTAVIO BARREIRA ALVARES CORREA

Radiologia Intervencionista

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