domingo, 4 de outubro de 2015

Vá com Deus meu cunhado irmão

Tem certos momentos na vida que pago um preço muito alto pelas minhas decisões.
Uma delas foi ir à busca de meus objetivos e quase sempre eles ficaram longes de minha família, de meus pais, meus irmãos, meus avós, tios, sobrinhos e primos.
Eu nunca trocaria meus amigos surpreendentes e entre eles, Jair Barbosa de Oliveira. Ele não era somente meu cunhado, era um amigo. Também, não trocaria minha vida maravilhosa, minha amada família por menos cabelos brancos ou uma barriga mais lisa. Enquanto fui envelhecendo, tornei-me mais amável para mim, e menos crítico de mim mesmo. Eu me tornei meu próprio amigo... Eu não me censuro por comer pão francês todo dia, ou por não fazer a minha cama quando saio para o trabalho, ou para a compra de algo bobo que eu não precisava, como uma miniatura de carros dos meus sonhos. Eu tenho direito de ser desarrumado ou, de ser extravagante.
Vi muitos amigos queridos deixarem este mundo cedo demais, antes de compreenderem a grande liberdade que vem com o envelhecimento. Perdi meu avô José Mariano Pires e meu Tio Osmir e não tive condições de estar presente pois, estava morando em BH, depois perdi meu tio Bené, meu Primo Lêdo Renato, meu tio e padrinho Luiz Pires, minha tia Helena, meu primo Jesus e agora meu cunhado Jair Barbosa de Oliveira. Todos eles, eu estava longe e não tive oportunidade de prestar a última homenagem de corpo presente.
Sexta-feira estava voltando de visitas em algumas fazendas no município de Curionópolis – PA, distante 147km de Marabá. Em um dado momento, conversávamos sobre o cotidiano do ser humano e meu colega de viagem, me perguntou:
- Jodenon, na sua visão, qual o sentido de nossas vidas aqui neste mundo?
Respondi:
- Na minha visão, dividimos por tempos ou partes.
A primeira, quando enchemos o pulmão pela primeira vez, o nosso sentido da vida é chorar, depois, respirar, dar a primeira mamada (essa é a melhor até hoje só alterando os peitos), depois manipular nossos pais para satisfazer nossos desejos, necessidades e nossas birras.
Num segundo estágio, fazer com que nossos pais e irmãos se tornem os escravos dos nossos desejos, para isso desenvolvemos artimanhas para conseguir.
O tempo vai passando e os objetivos sociais que muitas das vezes não são nossos, mas de extrema necessidade para nos inserir e viver em sociedade, como formação social, humana e profissional.
Desse modo, abre-se um leque de possibilidades do seu sentido de vida.
Ser um grande profissional reconhecido pela sociedade e orgulho da família. Outros acham indiretamente que o sentido de sua vida é se tornar um elemento contrário aos interesses sociais tornando-se um fora da lei (bandidos, qualquer pessoa mau caráter, sem escrúpulos e etc.).
Expus meu ponto de vista por mais ou menos meia hora e finalmente, disse que o meu sentido da vida, mudou depois que estive com um pé do outro lado da vida.
A minha família sempre foi o meu sentido da vida, mas depois do descrito no parágrafo anterior, ele quadriplicou. Vivo um dia de cada vez sem me preocupar com o que poderá vir, se o amanhã eu tiver.
Eu sei que às vezes esqueço algumas coisas. Mas há mais algumas coisas na vida que devem ser esquecidas. Eu me recordo das coisas importantes e boas que vivi e que me serviram de exemplos.
Claro, ao longo dos anos meu coração foi quebrado. Como não pode quebrar seu coração quando você perde um ente querido, ou quando uma criança sofre, ou mesmo quando algum amado animal de estimação é atropelado por um carro? Mas corações partidos são os que nos dão força, compreensão e compaixão. Um coração que nunca sofreu é imaculado e estéril e nunca conhecerá a alegria de ser imperfeito.
Eu sou tão abençoado por ter vivido o suficiente para ter meus cabelos grisalhos e ter os risos da juventude gravados para sempre nos poucos sulcos que estão aparecendo em meu rosto.
Sofro às vezes alguns preconceitos eu sei, mas agradeço a Deus todos os dias pela oportunidade de estar vivendo e com a consciência de que muitos morreram antes de seus cabelos virarem prata.
Conforme você envelhece, é mais fácil ser positivo. Você se preocupa menos com o que os outros pensam. Eu não me questiono mais.
Eu ganhei o direito de estar errado. Assim, para responder sua pergunta, eu gosto de ser idoso.
A idade me libertou. Eu gosto da pessoa que me tornei. Eu não vou viver para sempre, mas enquanto eu ainda estou aqui, eu não vou perder tempo lamentando o que poderia ter sido, ou me preocupar com o que será. E eu vou comer sobremesa todos os dias (se me apetecer).
Aquele que tem a oportunidade de ser meu amigo, eu digo que, nossa amizade nunca se separa porque, é direto do coração!
Não é porque o Jair faleceu que estou expressando o que ele foi pra mim. Foi um grande homem, passou por grandes provações e sempre se reergueu com muita dignidade, como um exemplo a ser seguido, um pai exemplar e carinhoso, um ser que soube perdoar, um pouco tímido e infelizmente torcedor do Goiás. Tive e continuarei sempre a sentir orgulho dele e agradeço sempre a Deus por ele ter sido meu cunhado, embora as nossas oportunidades de convivência ter sido poucas.
Vá estar ao lado de nosso pai, embora triste e sofrendo, entendo as fases da vida e que quando chega a nossa hora, não há semideus que consiga reverter a nossa partida.
Você foi um homem que sabia o significado de que, ser feliz não é ter uma vida perfeita. Que ser feliz foi reconhecer que valia a pena viver, apesar dos desafios, das perdas e frustrações. Você deixou de ser vítima dos problemas e se tornou autor da sua própria história. Você deixou um grande legado para suas filhas, que seguirão sempre o caminho da simplicidade e do amor.
Você continuará sempre em meu coração.
Jodenon